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Foto do escritorIsabel Marinho

O BRASIL QUE TODOS FINGEM NÃO VER - "HOLOCAUSTO BRASILEIRO"

RESENHA ESCRITA POR ISABEL MARINHO

Disciplina de Prática da Notícia - Prof. Paulo Ranieri


Foto: Luiz Alfredo - Divulgação Geração Editorial

O extraordinário livro-reportagem, Holocausto Brasileiro (Geração Editorial, 2013) escrito pela jornalista, escritora e documentarista Daniela Arbex, mostra a situação desumana enfrentada no maior hospício do Brasil, Colônia. Nas mais de 256 páginas, Daniela não só entrevista os sobreviventes desse genocídio, mas dá a eles uma identidade e uma oportunidade de voz.


O livro polifônico foi eleito o Melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte em 2013 e o segundo melhor Livro-Reportagem no prêmio Jabuti em 2014. A história do Brasil salva do esquecimento foi estruturada até o quinto capítulo a partir dos maus tratos: Em O pavilhão Afonso Pena, pacientes bebem água do esgoto; Na roda da loucura, fome, sede, frio e choques são constantes, além do encarceramento; O único homem que amou o Colônia, pacientes sofrem trabalho escravo; A venda de cadáveres, corpos são vendidos para faculdades de medicina do país e em Os meninos de Oliveira, a violação sexual ocorre.


Do sexto capítulo adiante, a jornalista os organizou a partir de viradas triunfais: A mãe dos meninos de Barbacena, pacientes são reinseridos na sociedade com a ajuda da freira Mercês; A filha da menina de Oliveira, uma paciente dá à luz a duas meninas no Colônia; Sobrevivendo ao holocausto, uma história de amor atravessa os muros do hospício; Encontro, desencontro, reencontro, mãe e filho se encontram após uma separação de 45 anos; A história por trás da história, o jornalismo denuncia os maus-tratos; Turismo com Foucault, médicos denunciam no III Congresso Mineiro de Psiquiatria as atrocidades cometidas no Colônia; A luta entre o velho e o novo, Franco Basaglia, pioneiro da luta pelo fim dos manicômios, chama a atenção da sociedade; Tributo às vítimas, a cidade dos loucos começa a mudar com a construção de residências terapêuticas e nasce o Museu da Loucura e no último capítulo, A herança do Colônia, a jornalista mostra e afirma que a indiferença da sociedade pode consolidar as mais distintas formas de extermínio.


A partir disso, a autora consegue mostrar o quão duro era ser considerado “diferente” no século XX, no Brasil. Assim como o nazismo, os indivíduos “indesejáveis” à sociedade embarcavam em um trem que os conduzia à morte. Desse Brasil que muitos preferem não falar, a autora, brilhantemente, chama atenção não só ao passado, mas ao presente e ao futuro.


Transformar dor em relato, silêncio em palavra, não é uma tarefa fácil. No livro, o leitor assume diversas posições: o de brasileiro, irmão, pai, mãe, tio e até de um amigo das pessoas entrevistadas, tudo isso se dá pela narrativa intimista. Cada pessoa se tornou um personagem, todos têm sua singularidade e, hoje, constituem uma malha fina. Fina porque os maus-tratos marcaram; uma malha porque ganharam força e se antes estavam juntos por acaso, no livro ganharam um agrupamento único. Atualmente, os sobreviventes constituem uma nação. Eles assumem esse papel para falar desse Brasil e falar é necessário para que não se repita.

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